Já escrevi noutro contexto, que o problema das migrações não
reside no destino mas na origem. As grandes potencias mundiais não querem
solucionar o problema destes povos que se debatem contra a fome e a doença.
As «invasões» pacíficas das populações subsarianas,
compelidas pela fome, flageladas pelas doenças e pelas hordas de malfeitores
que lhes roubam a dignidade (Boko Haram e outros), submetem-se a atravessar o
deserto e, chegados à costa meridional de África, defrontam-se com novo obstáculo,
quase intransponível (faz lembrar o Antigo Testamento e a travessia do mar
Vermelho), não resistem a atravessar o mar em busca da «terra prometida», tanto
é o sofrimento e a ânsia de encontrar melhores condições de vida para si e
principalmente para a sua família.
Os muitos milhares de seres humanos que têm perecido na
travessia do mar que separa a África da Europa, o Mediterrâneo, devem
constituir um ponto de reflexão de toda a humanidade. É preciso constituir um
lobie de pressão junto das Nações Unidas (ONU) que exija aos países que gastam
milhões em material bélico a parar com a produção de armas que visam o
extermínio da humanidade, em prol de alimentos, medicamentos e instrução para
esses povos famintos, desnutridos e doentes que neste «êxodo» desumano arriscam
tudo – a própria vida - seduzidos pelas promessas de uns quantos sem escrúpulos
que lhes vendem miragens.
A última notícia sobre este drama, tem algo de surrealista e
impensável, mas que denota até onde pode ir a imaginação humana para sobreviver.
Um pai, face às autoridades do país onde vive legalmente, não permitirem a
junção da família, idealizou o transporte de um filho de oito anos dentro de
uma mala. Detetada pelos meios sofisticados de controle do aeroporto, a criança
foi entregue a uma instituição de acolhimento de menores e o pai preso bem como
a moça Marroquina de 19 anos recrutada pelo pai para a passagem na alfândega.
Houve infração às leis, é um facto, mas condói. Devemos todos pensar em
resolver a origem deste drama e solucioná-lo.
Perante isto muitos dirão - «mas que é que posso fazer?»,
«sou um só contra o mundo!». Pois é, se todos pensarmos assim, o mundo jamais
irá para a frente. Está em cada um de nós mudar o mundo com o nosso
comportamento. Somos nós que elegemos os governantes com o nosso voto, temos a
faca e o queijo na mão, como soe dizer-se. Se votarmos em consciência, segundo
as nossas convicções cívicas e de cidadania previlegiando as ideologias que
defendem e praticam o bem do homem enquanto ser por excelência e súmula
superior da criação, estaremos a contribuir para a construção de um mundo
melhor e mais justo.
A Europa, berço dos mais elementares direitos de liberdade,
igualdade e fraternidade, precisa de se organizar para ajudar os países mais
desfavorecidos a encontrarem um caminho de paz, dignidade e sustentabilidade
que permita aos naturais desses países viverem condignamente sem precisarem de
migrar da forma desumana a que são forçados. Tal como numa árvore, é na raiz
que reside o mal e é lá que ele tem de ser tratado, não no caule ou nos ramos.
Publicado no jornal «A Aurora do Lima»
A.160 - n.º 22 em 2015-06-04
Viana do Castelo, 2015-05-11
Manuel de Oliveira Martins
maolmar@gmail.com
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