Quem olha do monte de S. Luzia, alcança um vasto e belo
panorama, que os poetas consagraram em estrofes inolvidáveis.
Os castrejos que habitaram a citânia certamente ficaram
embevecidos e deslumbrados com a imensidão do horizonte e aí se fixaram. Na
Idade Média, desceram o monte e fixaram-se junto ao rio e ao mar para dele
desfrutarem as riquezas e o lazer, para mais tarde se aventurarem por esse mar
fora à descoberta da Terra Nova dos bacalhaus e outros descobrimentos.
Existe, neste rincão à
beira mar plantado, um mar de
oportunidades, que em tempos remotos os nossos antepassados aproveitaram na
forma e da forma que podiam e sabiam.
O aproveitamento de fundos comunitários para criar o Centro
de Mar que vai coordenar os Centros de Alto Rendimento (CAR) da canoagem, remo,
surf e vela, é uma aposta louvável do município que pretende envolver e motivar
os jovens e a comunidade escolar para a prática saudável dos desportos
náuticos.
A instalação do Centro de Mar no navio Gil Eannes foi uma
ideia inovadora e arrojada que implicou a adaptação de espaços (outrora
utilizados para outros fins) a uma realidade nova, moderna e funcional.
As alterações feitas na estrutura do navio, eram
absolutamente necessárias à funcionalidade que se pretendia. Não fazer estas
alterações e manter a estrutura antiga, tal como existia, seria um desperdício
de tempo e dinheiro injustificáveis.
Foram abertos espaços amplos e funcionais sem prejudicar a
génese da construção, realçando-a quando era necessário, como o caso da máquina
do leme, que foi genuinamente preservada.
Os acessos foram melhorados através de escadas amplas e bem
concebidas, aproveitando o albói; os camarotes foram beneficiados e
transformados em salas de apoio a técnicos e demais utilizadores do Centro de
Mar.
Globalmente, a transformação concebida e executada com
profissionalismo e sentido estético, melhorou substancialmente a oferta de
espaços expositivos na área marítima.
Pena que não tenha havido verba para melhorar os camarotes do
lado de bombordo e integrar este espaço na área destinada ao Centro de Mar.
Pessoalmente, defendo que, embora integrado no espaço Fundação, o Centro de
Mar, pela sua função e especificidade, deve ter um espaço e gestão
independente, mas complementar, para não colidir.
Tal como o Centro Cultural é um espaço multiusos, a Fundação
Gil Eannes pode também ser um espaço idêntico, voltado para os assuntos
relacionados com o rio e o mar.
Viana tem uma história a contar. Viana só foi grande quando
se voltou para o mar - o comércio do açucar brasileiro, a pesca do bacalhau, os
Estaleiros Navais – são alguns exemplos que engrandeceram Viana e a tornaram
conhecida a nível nacional e internacional.
É necessário dar a conhecer esse passado glorioso de Viana,
que através do seu porto e das suas gentes tanto dignificaram esta cidade e
esta região. Impoe-se a constituição de um museu marítimo, há muitas décadas
reclamado, formado com o espólio público e privado ainda existente, testemunho
dessa história centenária, antes que se perca.
Por que não adaptar o espaço do Gil Eannes, onde esteve
instalada a Pousada da Juventude, para formar o núcleo museológico do mar?
Viana do Castelo tem um espólio museológico soberbo e
variado, abrangendo todas as vertentes de atividade do homem nesta região.
Paradoxalmente, e contrariamente à sua formação como povoação fluvio-marítima,
não tem um núcleo museológico (Carreço é agromarítimo) que mostre esta faceta,
génese da sua existência e razão do seu crescimento.
É uma lacuna imperdoável!
Viana do Castelo, 2014-11-29
Manuel de Oliveira Martins
maolmar@gmail.com