sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O DRAMA AFRICANO


Já escrevi noutro contexto, que o problema das migrações não reside no destino mas na origem. As grandes potencias mundiais não querem solucionar o problema destes povos que se debatem contra a fome e a doença.
As «invasões» pacíficas das populações subsarianas, compelidas pela fome, flageladas pelas doenças e pelas hordas de malfeitores que lhes roubam a dignidade (Boko Haram e outros), submetem-se a atravessar o deserto e, chegados à costa meridional de África, defrontam-se com novo obstáculo, quase intransponível (faz lembrar o Antigo Testamento e a travessia do mar Vermelho), não resistem a atravessar o mar em busca da «terra prometida», tanto é o sofrimento e a ânsia de encontrar melhores condições de vida para si e principalmente para a sua família.
Os muitos milhares de seres humanos que têm perecido na travessia do mar que separa a África da Europa, o Mediterrâneo, devem constituir um ponto de reflexão de toda a humanidade. É preciso constituir um lobie de pressão junto das Nações Unidas (ONU) que exija aos países que gastam milhões em material bélico a parar com a produção de armas que visam o extermínio da humanidade, em prol de alimentos, medicamentos e instrução para esses povos famintos, desnutridos e doentes que neste «êxodo» desumano arriscam tudo – a própria vida - seduzidos pelas promessas de uns quantos sem escrúpulos que lhes vendem miragens.
A última notícia sobre este drama, tem algo de surrealista e impensável, mas que denota até onde pode ir a imaginação humana para sobreviver. Um pai, face às autoridades do país onde vive legalmente, não permitirem a junção da família, idealizou o transporte de um filho de oito anos dentro de uma mala. Detetada pelos meios sofisticados de controle do aeroporto, a criança foi entregue a uma instituição de acolhimento de menores e o pai preso bem como a moça Marroquina de 19 anos recrutada pelo pai para a passagem na alfândega. Houve infração às leis, é um facto, mas condói. Devemos todos pensar em resolver a origem deste drama e solucioná-lo.
Perante isto muitos dirão - «mas que é que posso fazer?», «sou um só contra o mundo!». Pois é, se todos pensarmos assim, o mundo jamais irá para a frente. Está em cada um de nós mudar o mundo com o nosso comportamento. Somos nós que elegemos os governantes com o nosso voto, temos a faca e o queijo na mão, como soe dizer-se. Se votarmos em consciência, segundo as nossas convicções cívicas e de cidadania previlegiando as ideologias que defendem e praticam o bem do homem enquanto ser por excelência e súmula superior da criação, estaremos a contribuir para a construção de um mundo melhor e mais justo.
A Europa, berço dos mais elementares direitos de liberdade, igualdade e fraternidade, precisa de se organizar para ajudar os países mais desfavorecidos a encontrarem um caminho de paz, dignidade e sustentabilidade que permita aos naturais desses países viverem condignamente sem precisarem de migrar da forma desumana a que são forçados. Tal como numa árvore, é na raiz que reside o mal e é lá que ele tem de ser tratado, não no caule ou nos ramos.

Publicado no jornal «A Aurora do Lima»
A.160 - n.º 22 em 2015-06-04

Viana do Castelo, 2015-05-11
Manuel de Oliveira Martins
maolmar@gmail.com