Temos um potencial catalisador de
energias que ainda não soubemos explorar. Existem alguns casos pontuais que
emergiram de condicionantes específicas como é o caso do Algarve, Douro e
Lisboa, como polos de turismo conhecidos a nível mundial, principalmente fruto
dos baixos preços praticados, mas não das sinergias que podem gerar.
O clima, as belezas naturais, a
boa maneira de recebermos, a gastronomia tipo mediterrânica e o património
material e imaterial, são, entre outros, alguns fatores que devemos aproveitar
e preservar para desenvolver um turismo sustentado e de qualidade que atraia os
turistas estrangeiros a visitarem o nosso país e os nacionais a escolherem
destinos internos que rivalizam em beleza com os melhores a nível mundial.
É no turismo e na nossa
capacidade de trabalho que está a galinha
dos ovos d’ouro que devemos olhar como esperança para o futuro. A criação
de um turismo integrado que abranja todas as áreas duma forma equilibrada e
sustentada, sem atentados que degradem o ambiente, o património, a gastronomia,
preservem e melhorem a nossa maneira simpática e cordial como sabemos receber,
são aspetos importantes que devem ser tomados em atenção e defendidos por todos
nós. Vamos estimar aquilo que temos e encontrar formas de o por a render em
benefício próprio e da humanidade, partilhando-o com quem nos visita, tirando
dividendos úteis dessa partilha que nos foi legada.
Ultimamente, com o crescendo de
turistas a visitar as duas cidades mais importantes do país (Lisboa e Porto),
tem surgido a apetência para cobrar taxas de entrada nos portos e aeroportos.
Estamos a matar a galinha dos ovos d’ouro.
O turista quer ser bem recebido com um serviço eficiente e normalmente não
reclama o que paga por esse serviço quando bem informado, mas não gosta de
pagar impostos que cabem aos outros. É justo que o turista pague a pegada
ecológica (turística), mas não lhe devemos mostrar a taxa que cobramos
diretamente. Essa taxa deve estar incluída e camuflada na fatura global e não
autonomizada parcelarmente, originando que o utente inquira o porquê dessa
taxa.
Outro imposto que está a matar a galinha dos ovos d’ouro é o IVA de 23%
aplicado na restauração, 10 pontos acima do valor médio, que mata a qualidade e
desmotiva o turista a provar a nossa gastronomia, afastando-se dos
restaurantes, evitando assim que publicitem as nossas iguarias que podiam ser
um embaixador e um sustentáculo económico. O homem não vive sem beber e comer.
A cadeia alimentar, até a comida chegar à mesa, gera emprego para muitas
pessoas e fixa as populações nas suas origens sem o êxodo para as grandes
cidades.
O surto turístico registado nos
últimos anos, atingiu o máximo em 2014 (10.394 milhões de euros) e
perspetiva-se que aumente em 2015, contudo, segundo a AHRESP (Associação da
Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal), cerca de 60% do setor
encontra-se em risco de falência, motivado pelo aumento do IVA (13% para 23%)
que as empresas num período de deflação não refletiram os preços ao consumidor,
suportando esse aumento através das margens e capitais próprios, atirando a
capacidade financeira dessas empresas para os níveis mais baixos de sempre. De
2008 (início da crise) para cá, perderam-se cerca de 44.000 postos de trabalho
(320.000/276.000), sendo significativo que no 4º trimestre de 2014
desapareceram perto de 26.000. Os preços estão ao nível de 2008 sendo quase
impossível as empresas manterem a sua atividade.
Outro aspeto a considerar é a
taxa do IVA (23%) aplicada ao vinho do Porto (o nosso maior embaixador) que
impede os turistas de levar uma recordação, apesar das inovadoras formas
encontradas pelas marcas de comercializarem o produto, face às exigências das
transportadoras «low-cost» ( menos de 100 ml).
Tudo isto contribui para matar a
galinha dos ovos de ouro que devemos acarinhar, sem degradar o nosso património
nem desvirtuar as nossas tradições, que constituem a nossa identidade cultural,
que é no fundo aquilo que os turistas procuram.
O tempo do sol e praia acabou.
Existem outros redutos com melhores condições para o efeito. O turismo
sustentado tem de ser analisado ao longo do ano e direcionado para nichos de
mercado de qualidade e com poder económico. O turismo de massas é efémero e
degrada.
Viana do Castelo, 2015-04-15
Manuel de Oliveira Martins
maolmar@gmail.com
Publicado no jornal «A Aurora do Lima, n.º 16 em 2015-04-23
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