sábado, 5 de setembro de 2015

CHEIRA A FÉRIAS


É notório por todo o Alto Minho a chegada da época estival; não só pelo clima, mas também pelas romarias e festas que ocorrem em cada aldeia minhota, ricas em tradições folclóricas e festivaleiras.
Há ainda outro fator que sobressai no quotidiano; refiro-me aos preparativos para receber os visitantes (turistas e emigrantes) durante o mês de agosto.
Como é uma característica do português e em especial do minhoto – saber receber bem o forasteiro – desdobram-se em aformosear os espaços públicos, prescindindo do próprio bem estar para servir os outros em prejuízo da qualidade de vida dos residentes.
Estão neste caso as obras que são projetadas nas ruas, nas praias, etc., que deviam ser planeadas de forma a causar o mínimo impacte nas populações residentes que pagam os impostos para suporte desses melhoramentos. Não está em causa o benefício (embora alguns de gosto discutível; isso é outro assunto), mas o «timing» da execução e os incómodos que revertem para as populações autóctones.
Os meses de verão transformam-se num martírio para quem vive especialmente na cidade; primeiro com os trabalhos para em agosto receber a avalanche de turistas e emigrantes que, ávidos de disfrutar intensamente o pouco tempo de férias de que dispõem, tudo invadem desregradamente com a complacência das autoridades, coisa que é negada aos residentes que são penalizados com taxas e coimas durante o ano.
A cidade só retoma o ritmo normal uma semana depois da romaria da Senhora d’Agonia, morrendo, é certo, da azáfama vivida em agosto.
Por mais que se faça é difícil Viana do Castelo preparar-se para receber condignamente os picos de afluência de pessoas nas festas d’Agonia sem afetar o viver dos naturais, contudo, deve-se fazer um esforço para minorar o impacte que esse evento cultural e tradicional traz para a cidade, especialmente nos aspetos de mobilidade e ambiental.
O turismo pode ser um dos sustentáculos da economia nacional e regional em particular, se soubermos aproveitar as potencialidades de cada região e adequando-as de forma a garantir a fixação das populações, através de um planeamento sustentado durante o ano e não só num mês de verão.
Existem na região do Alto Minho, potencialidades (geomorfológicas, gastronómicas, tradições, costumes, etc.) que bem geridas e estruturadas podem servir para dinamizar e desenvolver o turismo durante o ano inteiro. Este é o desafio que cabe a cada um de nós alto minhotos (por naturalidade ou afinidade) ajudar a desenvolver para tornar esta região mais sustentável económica e socialmente.

Manuel de Oliveira Martins
Viana do Castelo, 2015-07-22
maolmar@gmail.com

Publicado no jornal «A Aurora do Lima», 2015-08-13, n.º 32, Ano 160

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