sábado, 21 de junho de 2014

PRAXES

PRAXES

A morte de três estudantes em Braga resultante das praxes estudantis, somada às mortes misteriosas ocorridas neste ano escolar na praia do Meco, devem preocupar todos, indistintamente de terem alguém ligado a estas atividades estudantis que ultimamente têm tomado foros que ultrapassam o limite do razoável.
As praxes pretendem ser um elemento de integração do «caloiro» na nova escola, devendo por isso ser uma forma de aproximar e unir o recém entrado à nova realidade. Paradoxalmente o que se verifica na realidade é um afastamento motivado pelo medo que as práticas pouco heterodoxas e incongruentes despoletam no «caloiro».
Dizem os defensores que ninguém é obrigado a aderir, mas também se sabe que aqueles que manifestarem desinteresse pela praxe, são marginalizados. É uma forma de coagir o «caloiro» a aderir, atentatório da liberdade individual e como tal reprovável.
Os jornais documentam atos vexatórios e indignos que aviltam a condição humana, alguns deles objeto de punição judicial, mas não o suficiente por medo de retaliações por parte dos infratores - os «doutores» - acabando por se perder a oportunidade de desmascarar a monstruosidade de tais práticas por falta de prova.
Os tais «doutores» (que nunca chegarão a ser; alguns passam uma vida sem fazer uma cadeira), por falta de imaginação e muito por perversidade, teimam em continuar a copiar as maldades que uns «iluminados», em nome da liberdade, resolveram implementar tiranamente e à revelia da academia como regra, dux dixit.
Integrar o jovem estudante no meio académico devia constituir da parte dos mais velhos uma honra e, por conseguinte, uma lição de como o novo candidato ao ensino superior se deve comportar para atingir o grau académico a que se propõe. Os valores éticos e nobres, devem estar acima de tudo, não é através do aviltamento, do achincalhamento, do desprestígio, da humilhação que se faz a integração do «caloiro».
Só mentes corrompidas, desprovidas de sentimentos de pudor e de decência são capazes de praticar tais atos indignos como aqueles que a comunicação social por vezes relata. Obrigar a rastejar pelo chão e a comer erva, para não falar de outras coisas mais repugnantes, não é dignificante para o ser humano nem constitui uma forma de integração.
Um exemplo: - por que não, nas escolas onde existem relvados e jardins, colocar os «caloiros» a cortar a relva e a tratar dos jardins, com o consentimento, é óbvio, da reitoria. Muitos outros exemplos poderia aqui apontar, de integração para a cidadania. Não nos devemos esquecer que estes «caloiros» são potenciais quadros superiores públicos e privados e começa com a integração na universidade a integração na vida ativa.


Não sou contra as praxes, mas contra os métodos que utilizam para «praxar» os mais desprotegidos, concretamente os que precisam de maior apoio para se adaptarem à nova realidade. Não é fácil para um jovem, a mudança de hábitos, é aqui que a praxe deve atuar, integrando e não humilhando. Quantos jovens se perderam por causa das praxes? Está por fazer esse inventário por inconformismo de uns e por medo da maioria.
Outro aspeto a considerar é o tempo de duração das praxes que a meu ver é excessivo. A missão do estudante é estudar não é andar em paródias a maior parte do ano. Um estudante do ensino superior fica muito caro ao bolso de cada um de nós para além do que os pais gastam, devem ser responsabilizados pela gestão dos dinheiros que são gastos na sua formação. Há tempo para tudo, para o estudo e para a diversão, com ponderação e bom senso, como se exige a pessoas do  nível etário e cultural dos estudantes do ensino superior.
Tornou-se um mau hábito para a maioria, e uma obsessão e dependência para uns quantos, as festas patrocinadas por firmas de bebidas alcoólicas que para além de toldarem as cabeças, causam outras perturbações nos jovens; acidentes de viação, muitos deles que redundam em mortes, perdas de ano e abandono do curso que se propunham acabar. A frequência de um curso de nível superior deve ser potenciadora de uma formação académica, mas acima de tudo de uma  preparação para enfrentar a vida de trabalho que teem pela frente. Desta forma, está-se a contribuir para uma sociedade mais participativa, mais solidária e motora do desenvolvimento sustentável, que é necessário criar, para tornar a sociedade mais equilibrada e justa.

Publicado no jornal «A Aurora do Lima» em 12/06/2014

Viana do Castelo, 24 de abril de 2014
Manuel de Oliveira Martins
maolmar@gmail.com