PRAXES
A morte de três estudantes em
Braga resultante das praxes estudantis, somada às mortes misteriosas ocorridas
neste ano escolar na praia do Meco, devem preocupar todos, indistintamente de
terem alguém ligado a estas atividades estudantis que ultimamente têm tomado
foros que ultrapassam o limite do razoável.
As praxes pretendem ser um
elemento de integração do «caloiro» na nova escola, devendo por isso ser uma
forma de aproximar e unir o recém entrado à nova realidade. Paradoxalmente o
que se verifica na realidade é um afastamento motivado pelo medo que as
práticas pouco heterodoxas e incongruentes despoletam no «caloiro».
Dizem os defensores que ninguém é
obrigado a aderir, mas também se sabe que aqueles que manifestarem desinteresse
pela praxe, são marginalizados. É uma forma de coagir o «caloiro» a aderir,
atentatório da liberdade individual e como tal reprovável.
Os jornais documentam atos
vexatórios e indignos que aviltam a condição humana, alguns deles objeto de
punição judicial, mas não o suficiente por medo de retaliações por parte dos
infratores - os «doutores» - acabando por se perder a oportunidade de
desmascarar a monstruosidade de tais práticas por falta de prova.
Os tais «doutores» (que nunca
chegarão a ser; alguns passam uma vida sem fazer uma cadeira), por falta de
imaginação e muito por perversidade, teimam em continuar a copiar as maldades
que uns «iluminados», em nome da liberdade, resolveram implementar tiranamente
e à revelia da academia como regra, dux
dixit.
Integrar o jovem estudante no
meio académico devia constituir da parte dos mais velhos uma honra e, por
conseguinte, uma lição de como o novo candidato ao ensino superior se deve
comportar para atingir o grau académico a que se propõe. Os valores éticos e
nobres, devem estar acima de tudo, não é através do aviltamento, do
achincalhamento, do desprestígio, da humilhação que se faz a integração do
«caloiro».
Só mentes corrompidas,
desprovidas de sentimentos de pudor e de decência são capazes de praticar tais
atos indignos como aqueles que a comunicação social por vezes relata. Obrigar a
rastejar pelo chão e a comer erva, para não falar de outras coisas mais
repugnantes, não é dignificante para o ser humano nem constitui uma forma de
integração.
Um exemplo: - por que não, nas escolas
onde existem relvados e jardins, colocar os «caloiros» a cortar a relva e a
tratar dos jardins, com o consentimento, é óbvio, da reitoria. Muitos outros
exemplos poderia aqui apontar, de integração para a cidadania. Não nos devemos
esquecer que estes «caloiros» são potenciais quadros superiores públicos e
privados e começa com a integração na universidade a integração na vida ativa.
Não sou contra as praxes, mas
contra os métodos que utilizam para «praxar» os mais desprotegidos,
concretamente os que precisam de maior apoio para se adaptarem à nova
realidade. Não é fácil para um jovem, a mudança de hábitos, é aqui que a praxe
deve atuar, integrando e não humilhando. Quantos jovens se perderam por causa
das praxes? Está por fazer esse inventário por inconformismo de uns e por medo
da maioria.
Outro aspeto a considerar é o
tempo de duração das praxes que a meu ver é excessivo. A missão do estudante é
estudar não é andar em paródias a maior parte do ano. Um estudante do ensino
superior fica muito caro ao bolso de cada um de nós para além do que os pais
gastam, devem ser responsabilizados pela gestão dos dinheiros que são gastos na
sua formação. Há tempo para tudo, para o estudo e para a diversão, com
ponderação e bom senso, como se exige a pessoas do nível etário e cultural dos estudantes do
ensino superior.
Tornou-se um mau hábito para a
maioria, e uma obsessão e dependência para uns quantos, as festas patrocinadas
por firmas de bebidas alcoólicas que para além de toldarem as cabeças, causam
outras perturbações nos jovens; acidentes de viação, muitos deles que redundam
em mortes, perdas de ano e abandono do curso que se propunham acabar. A
frequência de um curso de nível superior deve ser potenciadora de uma formação
académica, mas acima de tudo de uma preparação
para enfrentar a vida de trabalho que teem pela frente. Desta forma, está-se a
contribuir para uma sociedade mais participativa, mais solidária e motora do
desenvolvimento sustentável, que é necessário criar, para tornar a sociedade
mais equilibrada e justa.
Publicado no jornal «A Aurora do Lima» em 12/06/2014
Viana do Castelo, 24 de abril de
2014
Manuel de Oliveira Martins
maolmar@gmail.com